terça-feira, 24 de novembro de 2009

Entrevista com o Arquiteto e Urbanista Giulio Maiorano

 37 anos - Formado pela Unip-São Paulo em 2008.


Qual o principal motivo que o levou a escolher a arquitetura como profissão?

Foi um pouco por intuição. Eu gostava de pintura, de coisas ligadas às artes.Desenhava e pintava muito, quando garoto.Antes de iniciar o curso tinha uma visão romântica e limitada a respeito da Arquitetura. Sempre fui uma pessoa muito criativa e acreditava poder estabelecer um vínculo entre minhas habilidades e minhas escolhas profissionais através desta carreira. O arquiteto é um totalizador do conhecimento, um concentrador, um artista e um cientista que harmoniza a relação entre as ciências exatas e humanas.



A questão ambiental vem sendo debatida em todo o mundo, com maior intensidade nos dias de hoje, tornando necessária, cada vez mais, a adequação da arquitetura a este aspecto. Você já fez algum projeto sustentável e qual a sua opinião sobre a arquitetura sustentável?

Fiz apenas um estudo de um projeto ligado ao reaproveitamento de resíduos da siderurgia.
A arquitetura, como diretriz de um sistema de produção de edificações, precisa atender a mudança de paradigmas pelas quais estamos passando e vamos passar, em função do já instalado aquecimento Global.Definir sustentável é fácil, mas definir oque realmente deva ser uma Arquitetura Sustentável, que implica em rever todo processo histórico e cultural de produção, o econômico eo social, continuando pelos materiais escolhidos, passando pelo conforto térmico e chegando no dilema energético que se apresenta, e mais a questão das águas, do uso e tratamento dos afluentes, chegando à um quadro bastante difícil de pintar para conseguir dizer com propriedade: aqui está uma Arquitetura Sustentável.A Sustentabilidade deve ser uma meta. Elementos que geram sustentabilidade devem fazer parte da produção arquitetônica dentro de critérios responsáveis e éticos. A consciência de fazer sustentável deve permear os projetos da nova era, inserindo elementos notadamente sustentáveis por mais simples que sejam, desde a simples reciclagem do lixo à independência energética da unidade habitacional, a cada inserção, a cada elemento, o Planeta agradece. Acada árvore que deixou de ser cortada para fazer um batente especial em mogno, são toneladas de oxigênio, climatização e nichos ecológicos preservados - informes sobre essa matéria estão amplamente disponibilizados na mídia - informe-se! Saiba quais as empresas que verdadeiramente estão comprometidas com isso, quais os dirigentes políticos e empresários que não trazem o verde só no discurso.
É possível uma Arquitetura Sustentável, desde que estejamos, também, preparados para uma grande mudança de paradigma, como o que propõe a PERMACULTURA :


- Cuidar do Planeta
- Cuidar das Pessoas
- Distribuir os excedentes


Provocando sempre impactos ambientais positivos, re-estruturadores da bio-massa e dos nichos ecológicos.
O que vemos hoje na mídia, sendo apregoado como sustentabilidade, não passa de um engodo, jargão de modismo para parecer que a empresa incolor é verde. A arquitetura, como forma de produção, criadora de produtos imobiliários, acaba sendo levada a mentir: criam-se mega-projetos "sustentáveis",como se mega-projetos o fossem; mostra um modo de viver igual e insustentável como antes, dentro de uma nova roupagem estética e eco-lógica-mente-correta.
Vi um anúncio de aptos que estavam sendo vendidos, onde constava que as churrasqueiras seriam ecológicamente corretas...bom que eu saiba, se não houver carvão, fumaça, uso de tijolos refratários e recozidos (que inseneram milhões de árvores como lenha, ou gastos energéticos altíssimos em fornos e autoclaves, sem falar na emissão de CO2 na atmosfera), nem carnes ( nem de boi nem de porco - sistemas sabidamente insustentáveis e depredadores do meio ambiente para extensão de pastos e pela emissão de gases metano na atmosfera - que é pior que o CO2) - aí essa churrasqueira seria ECOLOGICAMENTE CORRETA.



Qual a sua visão em relação à arquitetura brasileira e a arquitetura internacional?


Conheço algumas capitais e admiro muito os arquitetos do movimento moderno. Entre os atuais, Angelo Bucci que me parece um exemplo de talento, rigor e elegância notáveis.Mas para o tamanho do país, a arquitetura brasileira contemporânea é muito ruim.Há coisas vergonhosas, e surpreende que seja assim, com Brasil tendo a escola que teve, tendo a geração anterior produzido arquitetura de tamanha qualidade- não só em monumentos, mas também no teciso médio da cidade. Com esse clima, o Brasil poderia ter arquitetura com espaços intermediários belíssimos. Contudo, parece que o país não saiu dos anos 80. O brasil teve um ótimo ponto de partida e acabou por perder a vez.
A partir da II Guerra Mundial ocorre uma procura intensa pela renovaçãoformal do ideário das vanguardas dos anos 20, valorizando os avanços da tecnologia da construção como expressão legítima da identidade dessa arquitetura. Este processo conduz a uma diversificação da experiência e ao questionamento da ortodoxia inicial do movimento moderno, sem entretanto representar uma ruptura. Novas preocupações tornam-se dominantes nos debates internacionais, seja nos CIAM (Congressos Internacionais de
Arquitetura Moderna), seja em revistas especializadas. Ao lado de uma "terceira geração" de arquitetos que trabalham a partir dos postulados da década de 20, estão também alguns dos antigos mestres, sobretudo LeCorbusier.
Durante os anos 40 e 50 predominou uma continuidade do Movimento Moderno considerada frequentemente como um desenvolvimento de suas teses e uma maior liberdade plástica, paralela a um crescente questionamento da ortodoxia de um estilo internacional. Na verdade, questionava-se com o desatre das duas guerras mundiais, a possibilidade de um suposto homem tipo da sociedade industrial, conduzindo à revisão de princípios. Basicamente, há uma preocupação crescente com aspectos sociais e culturais específicos, sob influência do existencialismo e do relativismo cultural das ciências sociais e da desconfiança da racionalidade como uma eficaz resposta aos problemas humanísticos do pós-guerra. Nesse contexto, vâo se conformando novas teorias sobre o projeto do espaço urbano e arquitetônico, que procuram, mais em tese do que efetivamente, respeitar os processos culturais diversos.Apenas ao fim dos anos 50 e princípio dos 60, houve uma crise conceitual mais extensa e uma ruptura efetiva com a herança do Movimento Moderno, como uma resposta válida e partilhada pelos arquitetos que se empenham na liderança da investigação do projeto arquitetônico e de sua fundamentação teórica.


A arquitetura é uma profissão muito abrangente, sendo apresentada de várias maneiras e em lugares diferentes. Qual a sua especialidade dentro de toda essa extensão profissional, incluindo as áreas: urbanista, cenográfica, interiores e eventos em geral?


Com uma formação recente, é difícil ainda definir uma especialidade, visto que, muitas vezes as oportunidades que surgem tem um papel maior em talhar isso, ao invés do gosto/propensão pessoal. Academicamente, desenvolvi em paralelo com a graduação - através de bolsas de pesquisa e extensão - e, inclusive, no TFG, trabalhos de Planejamento Urbano. Profissionalmente, foram poucas as oportunidades de elaborar estudos nessa área (resumindo-se a RCA/PCA e EIV). Unindo as oportunidades no âmbito da arquitetura predial com a propensão para as questões urbanas, definiria que minha especialidade tende a morar na conexão do construído com o não construído, do público com o privado, na preocupação com a melhor inserção dos objetos arquitetônicos (ou não) com seu entorno (edilício, paisagístico, patrimonial, ambiental, etc).




Como você vê o profissional que está entrando no mercado com formação em arquitetura e urbanismo e que conselho ou dica poderia lhe dar?

A postura que os arquitetos vêm assumindo perante a exigência do mercado é a imobilidade, inércia e acomodação. Cada um olhando para seu mundo, esquecendo que a profissão é constituída pelo trabalho de um conjunto de profissionais que tem peso enquanto grupo. Aos poucos, as discussões e o empenho de lutar por suas idéias - diante de uma pressão crescente, por parte de quem contrata, incorpora e constrói - foram abandonados.
O arquiteto tornou-se uma pessoa que não conhece o mercado e é dado aos devaneios. Fachadas, plantas e implantações muitas vezes são decididas por todos, menos pelo arquiteto. Até a palavra do corretor, que possui uma formação técnica ou prática de vendas, chega a ser mais importante do que a do autor do projeto. Como dizem, eles têm contato direto com os compradores e sabem os “melhores caminhos” para as vendas.
O que nos resta então? Apenas a concepção inicial e o trabalho burocrático de aprovação nos órgãos legais? Ou melhor, desenvolvermos projetos de arquitetos renomados e “caros”, que foram contratados apenas para o anteprojeto e a prefeitura (garantindo a “grife” da assinatura), criando uma cadeia regressiva de terceirizações, colocando todos os profissionais em xeque.
Se de fato há uma “seleção natural” no mercado, classificando os profissionais em mais caros ou mais baratos, porque não estabelecem uma categoria de escritórios baseada em currículo, tempo de existência, metros quadrados projetados, cursos feitos e quantidade de profissionais associados ou contratados, formando um conjunto de informações com peso e medida palpáveis, passível de valoração proporcional? Ao menos seria uma alternativa no meio deste caos, possibilitando uma adequação mais flexível ao mercado, sem perder sua coerência com as regras estabelecidas para a prática profissional. a dica seria a reflexão.


Qual ou quais as maiores dificuldades que você encontrou ou encontra na profissão de arquiteto e urbanista?

A profissão de arquiteto no Brasil lamentavelmente não vem recebendo o respeito que merece. O arquiteto precisa conhecer vários segmentos das ciências humanas e exatas e, principalmente, conhecer as pessoas. Em nossa sociedade do lucro, fica difícil encontrar a harmonia destes elementos e isso fica evidente na maioria dos novos empreendimentos imobiliários, que não possuem identidade, são meras produções seriadas sem qualquer valor estético. Unindo esse contexto à ausência da figura do arquiteto na cultura do brasileiro, fica difícil exercer a profissão. Mas cabe a vcs, estudantes de arquitetura, começarem a mudar esse cenário, pois a nossa é uma bela profissão, financeiramente recompensadora para os bons profissionais e acima de tudo responsável por dar forma às sociedades. Dois são os principais elementos de caracterização de uma sociedade: sua língua e sua arquitetura


Qual foi o maior desafio que você já enfrentou como Arquiteto?

Acho que o maior desafio é compreender que há uma função que não pode de nenhuma maneira se esconder. A arquitetura tem como propósito e como função atender as necessidades sociais e fazê-lo com competência técnica e, se há sorte com beleza artística. São quase os mesmos parâmetros que Vitruvius delineou quando dizia que arquitetura devia ter firmitas, utilitas e venustas. Não estamos muito longe de Vitruvius. A boa arquitetura é competente tecnicamente, é socialmente útil e esteticamente prazerosa.


O que deve ser levado em consideração na hora de projetar uma obra pública? Dê exemplo de uma, que carrega esses aspectos como pontos principais para a execução.


As cidades sempre apresentam realidades distantes do que se poderia chamar de ideal. Isso não é, obviamente, uma constatação revolucionária. Mesmo as cidades mais desenvolvidas do mundo apresentam vários tipos de problema, em maior ou menor escala e intensidade, constatação que pode ser observada nos índices de criminalidade, assim como nos gargalos ambientais e sociais, entre outros fatores.


Diversos aspectos da complexa natureza urbana estão muitas vezes sujeitos a curiosas inconsistências. Ou seja, características intrínsecas ao próprio funcionamento de uma cidade são freqüentemente negadas ou desprezadas por estreiteza de visão técnica, falta de vontade política ou por simples acomodação a equívocos históricos e a realidades superadas. Neste artigo vamos abordar um pouco da questão do transporte de alta capacidade e sua frágil relação com o funcionamento de nossas metrópoles – e como essa fragilidade se converte em oportunidades perdidas em cidades como São Paulo.


Não é mero acaso a grave crise de transporte que hoje assola as grandes cidades brasileiras. Devido à cultura rodoviarista que se fortaleceu paralelamente à industrialização, a partir da década de 1930, os trilhos nunca puderam exercer um papel consistente no transporte de passageiros e, portanto, perderam uma grande chance de desenhar nossas cidades. Ainda hoje cabe aos ônibus a responsabilidade de transportar grande parte da população, dividindo as ruas com uma frota de automóveis particulares que aumenta em cerca de 500 unidades por dia em uma cidade como São Paulo.


Em metrópoles populosas, um meio de transporte de baixa ou média capacidade não pode assumir a responsabilidade de atender com qualidade à enorme demanda. Os efeitos dessa política podem ser sentidos na ineficiência do sistema e nos efeitos colaterais, como a intensificação dos congestionamentos e dificuldade de fluidez do trânsito.
 
 
De todos os seus projetos, deve ter ‘’aquele’’ que mais se identificou ou que sempre estará presente no seu portifólio profissional. Conte um pouco sobre o objetivo desse projeto e execução do mesmo?

Sim, um restaurante com linguagem de viés cenográfico, mistura elementos de modernidade e tradição oriental em sofisticada arquitetura de interiores. A madeira predomina no mobiliário e nos revestimentos, embora a recorrente contraposição entre planos verticais e horizontais derive de sua alternância com superfícies executadas em materiais diversos, como o concreto. A área interna relativamente pequena - constituída por três lajes que medem cerca de 12 x 10 metros - motivou a tirar partido de enquadramentos naturais e artificiais para valorizar as dimensões dos ambientes de atendimento ao público. Estes ocupam a porção central e áreas contíguas às fachadas frontais. Nos trechos posteriores da edificação concentram-se os setores funcionais, que abrigam atividades administrativas, de apoio e de serviços. No térreo e no primeiro andar, então, os salões das mesas têm implantação aproximadamente quadrada, com cada uma das faces delimitatórias utilizada como enquadramento da arquitetura. Junto às fachadas, os recortes de janelas assumem essa função cenográfica, tanto em virtude dos desenhos que conformam, alternadamente verticais e horizontais, quanto da paisagem e intensidade de iluminação natural por elas incidente. Nas outras laterais, internas, são elementos arquitetônicos que desempenham tal papel. Assim, os balcões de preparo de alimentos, transversais aos salões, destacam-se pela contraposição da madeira escura que os constitui - a escolha recaiu sobre o ébano catedral - ao desenho em camadas e planos seqüenciais das paredes que os envolvem.
No térreo, por exemplo, o fechamento posterior do balcão de preparo do sushi é feito com concreto aparente, material a que foram sobrepostas peças de aço corten, recortadas com motivos tradicionais do Japão, assim como as vigas de madeira que revestem o teto. Elas são iluminadas por luz decorativa, na tonalidade vermelha, ocultas pelo forro rebaixado de gesso do salão central.
Também a escada se destaca visualmente nos interiores. Executada seqüencialmente com cimento em acabamento bruto e com chapa metálica, ela é delimitada por superfícies de aspecto rústico: de um lado o concreto aparente e do outro pintura sobreposta a imagens iconográficas em alto-relevo.Já o andar superior recebe luz natural com maior intensidade, tanto em função das grandes aberturas da fachada quanto da presença de iluminação zenital. À maior luminosidade, então, contrapõe-se a predominância da madeira nos revestimentos, inclusive de pisos e paredes, padrão que enfatiza o aspecto sofisticado.


O que arquitetura significa para você?

De forma ampla é possível definir a arquitetura como sendo uma intervenção no meio ambiente para satisfazer uma determinada expectativa, de forma a criar novos espaços, e com a intenção de se trabalhar com elementos estéticos. Pode-se também afirmar que a arquitetura é uma forma de arte visual, que pretende criar construções em um determinado espaço.